Casa na Rua Polônia é um refúgio urbano no coração de São Paulo
Assinada pelos arquitetos Gabriel Kogan e Guilherme Pianca, a casa localizada na Rua Polônia, em São Paulo, é mais do que uma residência — é um santuário urbano. Inserida em um bairro residencial tranquilo e ainda assim próxima ao centro da cidade, a casa oferece uma experiência espacial pautada por calma, precisão e conexão com a paisagem.
Logo na chegada, um jardim frontal recepciona os visitantes, com a construção posicionada à esquerda, respeitando um recuo lateral de cinco metros. Esse enquadramento inicial é cuidadosamente calculado para criar uma primeira impressão marcante — um convite visual que revela a lógica arquitetônica do projeto: uma organização frontal e profunda, que evita ângulos diagonais para privilegiar a clareza e a harmonia.
Com 977 metros quadrados, o projeto explora a repetição modular como fundamento estético e estrutural. A fachada de concreto de dois pavimentos é marcada por módulos que se repetem em ritmo constante, evocando a ideia de um grid infinito — interrompido apenas pelas empenas cegas nas extremidades, que sugerem expansão contínua sem perder o equilíbrio. Embora a repetição dialogue com o minimalismo, aqui ela ganha uma leitura tropical, calorosa e sensível ao contexto local.
Os materiais e acabamentos foram escolhidos com foco na funcionalidade e na honestidade visual. Nada é decorativo por capricho: painéis de madeira também são portas e estantes; o piso cimentício, os vidros e o concreto revelam sua função sem disfarces. Em ambientes como a cozinha e os banheiros, a durabilidade e a manutenção fácil foram prioridades — reforçando a lógica de integração plena entre forma e função.
Um dos detalhes mais poéticos do projeto está no forro de madeira uniforme da sala de estar, sem furos, luminárias aparentes ou interferências visuais. A iluminação, sempre indireta e refletida, cria uma atmosfera serena e acolhedora. A ventilação também foge do óbvio: circula por aberturas no piso e frestas discretas nos caixilhos, formando uma espécie de caixa de madeira pura, suspensa dentro da grelha de concreto.
Outro ponto alto é a relação entre interior e exterior. O piso da sala foi rebaixado, permitindo que o jardim — com pedras brutas e vegetação tropical — seja visto ao nível dos olhos. Essa escolha aumenta em 55 centímetros o pé-direito da área social, ampliando a sensação de espaço sem comprometer as proporções horizontais da fachada ou os módulos quadrados externos. O resultado é uma residência que equilibra racionalidade e contemplação, estrutura e leveza.