Sneakers como ativo, cultura e negócio: as tendências que movimentam o mercado brasileiro.
O que antes era apenas um item esportivo hoje movimenta bilhões de dólares, conecta gerações e redefine a cultura de consumo ao redor do mundo. No Brasil, esse movimento ganha contornos próprios, impulsionado por uma juventude que enxerga os tênis não só como parte do estilo de vida, mas também como ativos financeiros e formas de expressão pessoal.
Neste artigo, Igor Morais — fundador da KINGS Sneakers e um dos grandes nomes do mercado nacional — mergulha nas principais tendências que estão moldando o futuro dos sneakers por aqui: da ascensão da sneaker economy à força da personalização e da cultura urbana.

O mercado global de sneakers deve alcançar US$ 128,34 bilhões até 2030, com uma taxa de crescimento anual de 5,2% até lá, segundo relatório da Grand View Research. O dado reforça uma transformação significativa: o que antes era visto apenas como item esportivo ou de moda, hoje assume o status de ativo valioso, forma de expressão cultural e até opção de investimento.
A Geração Z é a principal força por trás dessa mudança. Para esses jovens, um par de Air Jordan não é apenas um calçado, mas um ativo financeiro – algo que pode valorizar como uma ação ou criptomoeda. E esse fenômeno vai muito além do hype: é uma redefinição do consumo, onde cultura, identidade e negócios se misturam.
A “Sneaker Economy”
Nos últimos anos, o conceito de “sneaker economy” ganhou força. Tênis raros e edições limitadas se tornaram comparáveis a ações da bolsa, com colecionadores comprando, guardando e revendendo por valores muito acima do preço original. Plataformas de resale, como StockX e GOAT, movimentam milhões, enquanto no Brasil, marketplaces especializados e grupos de WhatsApp viram hubs de negociação.
A lógica é simples: oferta e demanda. Um Yeezy, um Dunk exclusivo ou um Air Jordan em edição limitada pode valer cinco, dez vezes mais em poucos meses. Para muitos jovens, isso virou uma forma de renda extra – ou até mesmo um negócio sério.
Personalização e customização
Se os sneakers já são valiosos por si só, a customização elevou ainda mais seu status. Tênis pintados à mão, cadarços exclusivos e colaborações com artistas transformam um modelo comum em uma peça única. No Brasil, nomes como Dino Santos e Felipe Kross ganharam destaque por suas intervenções artísticas em sneakers, mostrando que a personalização é um diferencial no mercado.
Marcas também estão abraçando essa tendência, lançando opções de customização direto do site, como a Nike By You. O consumidor não quer apenas um tênis – quer um que conte sua história.
Influenciadores e cultura urbana
A influência dos sneakerheads tradicionais agora divide espaço com artistas, criadores de conteúdo e celebridades. No Brasil, nomes como MC Cabelinho, WIU, Orochi, JohnVlogs e Alvxaro ditam tendências e esgotam modelos em horas. A conexão entre cultura urbana e sneakers nunca foi tão forte.
Um post usando um tênis raro ou um stories com um lançamento exclusivo pode alavancar as vendas de um modelo. As marcas sabem disso e estão cada vez mais próximas desses influenciadores, fechando parcerias e collabs que ressoam com o público jovem.
Nostalgia e o retorno dos modelos retrô
A estética Y2K e retro está dominando as prateleiras. Modelos como Nike Shox, Puma Mostro, adidas Samba e ASICS Gel voltaram com tudo, impulsionados pela nostalgia dos anos 2000. A geração que cresceu vendo esses tênis agora tem poder de compra – e as marcas estão capitalizando em cima desse sentimento.
Além disso, o estilo “dad shoe” (tênis robustos e exagerados) continua em alta, provando que o conforto e o visual vintage são prioridades.
Collabs locais: o Brasil como fonte de inspiração
As grandes marcas estão percebendo o potencial das colaborações com artistas e personalidades brasileiras. A Nike com o Corinthians, a Puma com a Cartel 011 e a Oakley com a KondZilla são exemplos de como a identidade cultural brasileira agrega valor aos lançamentos.
Cores vibrantes, grafites, referências ao futebol e ao hip-hop nacional estão transformando collabs em verdadeiras celebrações da cultura brasileira. O consumidor quer se ver representado – e as marcas que souberem explorar essa conexão terão vantagem.
O fato é que o futuro dos sneakers passa por três pilares: valorização como ativo, personalização e conexão cultural. Quem entende esse movimento não vê tênis apenas como calçados, mas como obras de arte, investimentos e símbolos de identidade.
Para as marcas, o desafio é inovar sem perder a autenticidade. Para os consumidores, a oportunidade é entrar nesse mercado com conhecimento – seja para colecionar, revender ou simplesmente calçar um pedaço da cultura. Uma coisa é certa: o sneaker nunca foi só um tênis. E agora, todo mundo sabe disso.
Igor Morais é CEO e fundador da Kings Sneakers, uma das principais lojas especializadas em sneakers do Brasil.