
Depois de meses de especulação e negociações de bastidores, o mercado de luxo italiano acaba de presenciar um dos movimentos mais impactantes da última década: o Prada Group anunciou oficialmente a aquisição da Versace, encerrando o ciclo da marca sob a gestão da norte-americana Capri Holdings. O acordo foi fechado por €1,25 bilhão — cerca de R$ 8,33 bilhão, consolidando a Versace no portfólio de gigantes como Prada e Miu Miu.
O anúncio chega poucas semanas após a saída de Donatella Versace — diretora artística e rosto da casa nas últimas décadas — e a nomeação de Dario Vitale, ex-Prada com 14 anos de trajetória dentro do grupo. A mudança de comando já era um forte indicativo de que algo maior estava por vir.
Um movimento ousado em um cenário instável
A aquisição acontece em um momento delicado para a indústria de luxo. O ano de 2024 foi marcado por queda no consumo global, perda de confiança do consumidor e instabilidade geopolítica. A Versace sentiu o baque: no último trimestre, a grife registrou queda de 15% nas vendas. Na contramão, o Prada Group mostrou resiliência e cresceu 18% em vendas ano a ano, um feito notável dado o cenário macroeconômico.
Em comunicado oficial, o grupo ressaltou que a Versace é “uma adição fortemente complementar ao portfólio da Prada Group e apresenta potencial de crescimento inexplorado, com múltiplos vetores de criação de valor.” Mesmo com estéticas bastante distintas — de um lado, a sobriedade refinada de Miuccia Prada e Raf Simons; do outro, o maximalismo exuberante e barroco legado por Gianni Versace — a estratégia é clara: potencializar o DNA de cada marca sem interferir em sua identidade criativa.
Versace permanece Versace — só que com munição pesada
Segundo o Prada Group, a Versace manterá sua essência criativa e autenticidade cultural, mas agora com acesso total à expertise operacional, à estrutura industrial e à excelência em execução de varejo do conglomerado. Em termos práticos, isso pode significar um salto de performance nos bastidores: da cadeia de suprimentos à expansão internacional, passando por inovação de produto e fortalecimento digital.
De rumor a realidade: o deal que virou manchete
A primeira faísca veio em janeiro, quando o jornal italiano Il Sole 24 Ore sugeriu que a Prada estaria de olho na Versace. Em fevereiro, veio a confirmação de uma auditoria interna. E em março, o Business of Fashion cravou o valor da proposta. Hoje, com o martelo oficialmente batido, resta a pergunta que paira sobre o mercado: como a Versace vai se integrar a esse clube tão coeso e sofisticado que é o Prada Group — sem perder o brilho excêntrico que a tornou um ícone?
Se depender do histórico recente do grupo — e da habilidade de Miuccia em equilibrar legado e reinvenção — as apostas são altas. E a moda italiana acaba de ganhar um novo capítulo digno de passarela.