Cassino, a lenda do Soul music Brasileiro
Cassiano, a essência do Soul Brasileiro
Conhecido como o pioneiro do soul brasileiro, sua obra foi redescoberta ao longo dos anos e permanece viva, influenciando tanto novos talentos quanto grandes nomes da música nacional.
Nascido na Paraíba, mas criado no Rio de Janeiro, Cassiano carregava em sua memória as influências da terra natal e as lembranças de seu pai, amigo de Jackson do Pandeiro. Sua carreira começou em 1964 como violonista do grupo Bossa Trio, que se transformou em Os Diagonais.
Essa banda, fortemente influenciada pelo soul norte-americano, ajudou a introduzir uma nova sonoridade no Brasil, unindo a paixão da música soul com a essência brasileira. Essa modernização da música popular trouxe uma sensibilidade nova, mudando a percepção do público e da indústria sobre o gênero.
A parceria de Cassiano com Tim Maia foi decisiva. Recém-chegado dos Estados Unidos, Tim encontrou em Cassiano um aliado musical.
Juntos, criaram faixas marcantes como “Você Fingiu”, “Padre Cícero”, “Eu Amo Você” e “Primavera”, lançadas no primeiro LP de Tim Maia, em 1970. Essa colaboração abriu portas para Cassiano lançar seu álbum solo de estreia, Imagem e Som, onde pôde explorar suas próprias versões das músicas que compôs. Apesar da baixa repercussão inicial, Cassiano não desistiu de sua visão artística.
Seu segundo álbum, Apresentamos Nosso Cassiano (1973), trouxe experimentações sonoras que beiravam a psicodelia, mas novamente passou despercebido. No entanto, o destino de Cassiano mudou em 1975, quando suas canções “A Lua e Eu” e “Coleção”, ambas em parceria com Paulo Zdanowski, foram incluídas em telenovelas da TV Globo, impulsionando seu trabalho para um público mais amplo e consolidando-o como o “Soulman” do Brasil.
Em 1976, o álbum Cuban Soul: 18 Kilates elevou Cassiano a um novo patamar, firmando sua posição como referência do soul brasileiro.
Ainda que seu talento fosse inegável, Cassiano enfrentou dificuldades com sua gravadora, que recusou lançar um quarto álbum em 1978, temendo um retorno financeiro incerto. Problemas de saúde complicaram ainda mais sua trajetória; ele teve parte do pulmão removido, o que afetou significativamente sua carreira. Seu último álbum de estúdio, Cedo ou Tarde, foi lançado em 1991, com regravações de suas composições e participações especiais de Sandra Sá, Ed Motta e Cláudio Zoli. O resultado, porém, não agradou Cassiano, que se retirou dos holofotes e viveu de forma reclusa no Rio de Janeiro.
Embora tenha passado anos longe do cenário musical, a obra de Cassiano se mantém viva. Sua influência é ouvida em gêneros diversos: Ivete Sangalo gravou sua icônica “Coleção”, e Racionais MC’s homenageou o artista na faixa “Vida Loka Parte 2”. “A Lua e Eu” também ressurgiu nos anos 90 com o grupo Pixote, apresentando sua música a novas audiências. Cassiano é mais que uma lenda do soul; ele é uma prova do poder duradouro de uma obra autêntica.
Cassiano, como Arthur Verocai, representa o espírito de REdescoberta. Sua música, ainda que em grande parte do tempo incompreendida, encontrou um lugar único na história brasileira, inspirando sucessivas gerações de músicos e fãs. Sua trajetória é marcada pela resistência e pela paixão, e suas canções seguem ecoando, perpetuando seu legado na música brasileira.
REdescobertas é pensado por Carolina Malcher e publicado em parceria com a ¥AS 31.