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Jurumirim House, por Nitsche Arquitetos: uma ode à arquitetura brasileira contemporânea

A Jurumirim House, projetada pelo escritório paulista Nitsche Arquitetos, é um estudo elegante de como a arquitetura pode dialogar com a natureza, a funcionalidade e a estética de forma fluida e orgânica. Localizada no interior de São Paulo, às margens do reservatório de Jurumirim, a residência térrea se desdobra em sete volumes interligados por passagens cobertas e jardins internos, formando uma espécie de vila contemporânea envolta por vegetação e luz natural.

Volumes Independentes, Vínculos Orgânicos

O projeto parte da lógica de separação funcional por blocos, criando respiros entre os usos e garantindo privacidade e ventilação cruzada. O maior volume abriga o núcleo social — sala de estar, cozinha integrada e uma generosa varanda com churrasqueira — e se conecta a três outros blocos com duas suítes cada, todos ligados por um corredor de quase 50 metros protegido por uma longa parede de elementos cerâmicos vazados, que permite a passagem de ar e protege da chuva.

Ao sair da varanda da sala, o caminho até a piscina é feito por plataformas elevadas revestidas em granito branco Itaúnas, atravessando um jardim que funciona como eixo de transição entre as áreas sociais e o lazer. Sob o deck da piscina, uma sauna se abre para a paisagem do reservatório, ampliando a relação entre o espaço construído e a natureza ao redor.

Diálogos Materiais e Racionalidade Construtiva

A casa valoriza o uso exposto e honesto dos materiais. A estrutura de madeira permanece aparente, o telhado termoacústico branco é visível a partir dos interiores, e o piso em toda a casa (exceto nas áreas molhadas) é a laje estrutural de concreto polido, que remete ao granilite, mas com menor custo e maior racionalidade construtiva.

Poucos acabamentos foram utilizados, reforçando a ideia de que a beleza está na simplicidade e na clareza dos elementos arquitetônicos. Essa escolha, aliada a uma curadoria cuidadosa de mobiliário confortável e discreto, resulta em uma atmosfera serena e despretensiosa.

Fachadas com Funções Complementares

Os dois lados principais da residência apresentam linguagens opostas, mas complementares. A fachada posterior, voltada para a circulação longitudinal, é marcada por um extenso muro de cobogós cerâmicos verdes, que conferem privacidade, ventilação e uma identidade estética singular ao conjunto. Em contraste, a fachada frontal, que mira o espelho d’água do Jurumirim, é completamente envidraçada, com caixilhos de alumínio anodizado e proteção solar feita por painéis de tecido perfurado (Soltis screen), que também funcionam como barreiras contra insetos.

Estratégia de Cobertura Dupla

O pé-direito da cobertura inclinada na área social chega a 4,3 metros, o que a tornaria excessivamente exposta às intempéries. Como solução, os arquitetos adicionaram uma segunda cobertura a 2,7 metros, recuada da estrutura principal, que garante o uso pleno da varanda sem bloquear a luz natural ou a vista do céu — mais um exemplo de como o projeto valoriza conforto climático sem sacrificar a experiência espacial.

Arquitetura com Alma Brasileira

A Jurumirim House é, ao mesmo tempo, refúgio e manifesto arquitetônico. Ela traduz a lógica do clima tropical, a estética contemporânea brasileira e um profundo respeito pelo entorno natural. Ao modular a planta em uma grelha de 7 x 3,5 metros, Nitsche Arquitetos trazem racionalidade ao layout e criam uma espacialidade fluida, onde o caminhar entre volumes torna-se parte da vivência cotidiana.

Mais do que uma casa, o projeto é uma narrativa construída com luz, sombra, matéria e paisagem. Uma obra que reafirma como a arquitetura brasileira pode ser ao mesmo tempo técnica, poética e profundamente conectada ao modo de viver local.

Fotografia por André Scarpa
Para saber mais, visite o site da Nitsche Arquitetos

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