Retrato Falado — Oreia
Oreia nunca imaginou que a música seria seu destino. Nascido no Vale do Jequitinhonha, cresceu cercado por bichos e sonhava em ser veterinário. Mas foi em Belo Horizonte, aos 15 anos, que encontrou o rap e nunca mais olhou para trás. “Eu conheci o Duelo de MC’s e foi paixão à primeira vista. Aquele encontro de rima, grafite, DJ… tudo ali junto. Eu sabia que era isso”, relembra.
Sem espaço para se apresentar, começou a produzir seus próprios eventos, colando em estúdios e insistindo até conseguir gravar suas primeiras músicas. Em 2016, sua vida mudou quando a DV Tribo — coletivo formado por Djonga, Clara Lima, FBC, Hot, Coyote e ele — colocou Belo Horizonte no mapa do rap nacional. A partir daí, seguiu em dupla com Hot até anunciar sua carreira solo em 2022. Agora, com o lançamento de seu terceiro álbum, Oreia (2025), ele se firma como uma voz singular na cena.
“O álbum é um cuspe da minha personalidade”, define. O trabalho passeia pelo boom bap, pelo protesto, pelas love songs ciumentas e livres. Tem feats com Djonga, Clara Lima e Massaru, e uma produção que mistura beatmakers e músicos de verdade. “Foi tudo muito caseiro, indo na casa dos caras, experimentando sons, colocando alma no disco”, explica.
Mas o grande diferencial do álbum está na inclusão da comunidade surda. Viabilizado pela Lei Paulo Gustavo, o projeto exigia tradução para Libras. Enquanto muitos tratam isso como uma obrigação burocrática, Oreia transformou em arte.
A gente inverteu os papéis. Nos clipes, os intérpretes de Libras são os protagonistas, bem vestidos, bem filmados. Eu fiquei de canto”.
A abordagem gerou uma resposta avassaladora. “Tem 10 milhões de surdos no Brasil. Hoje eles me mandam mensagens, me chamam pra entrevistas. Isso é representatividade de verdade”, diz, orgulhoso.
Para Oreia, a música é visceral. Ele gosta do som que tira as pessoas do lugar.
A música é a segunda maior arte que existe. A primeira é a pichação. Mas eu amo a música porque ela mexe com a alma. Gosto quando ela constrange, quando ela te obriga a sentir algo”.
Fotos: @diegoruahn
Stylist: @mandlimad