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Retrato Falado — Leonardo Gonçalves

Leonardo Gonçalves nunca quis ser famoso. Quis ser professor de alemão. Seu plano era seguir carreira acadêmica, escrever, ensinar, viver entre livros e ideias — até que a música o encontrou. Ou, talvez, até que Deus usasse a música como linguagem para expressar um chamado.

Nascido na Alemanha, filho de brasileiros, Leonardo cresceu entre idiomas, culturas e dilemas de identidade. Aos 14 anos, se mudou para o Brasil. Adolescente e inseguro, perdeu sua principal ferramenta de expressão: a língua. “Era duro. A linguagem sempre me definiu enquanto indivíduo. E, de repente, eu não dominava mais o idioma das pessoas ao meu redor”. Foi nesse vácuo de pertencimento que a música entrou — primeiro como refúgio, depois como vocação.

O primeiro palco foi um colégio interno adventista. Coral, estúdio, gravações. Aos 16 anos, durante uma reunião espiritual, Leonardo fez um trato com Deus:

Enquanto o Senhor abrir portas na música, eu vou atravessar. Mas eu não vou bater em nenhuma”.

E assim foi. Porta após porta, disco após disco, até ele se tornar uma das vozes mais reconhecidas e respeitadas da música cristã contemporânea no Brasil.

Mas seu caminho nunca foi fácil. Leonardo começou com todas as “desvantagens”: sem técnica, sem prática, sem experiência vocal. “Eu tinha todos os defeitos possíveis — menos ser desafinado”. Ele aprendeu tudo sozinho. Inventou exercícios, corrigiu nasalidade, construiu vibrato, treinou interpretação. “Se minha voz não era bonita como a dos outros, ela teria que dizer algo. Eu precisava cantar com sentido”.

Ao longo do tempo, desenvolveu três pilares vocais: técnica, embelezamento e interpretação emocional. Essa última se tornou sua assinatura. Suas performances emocionam porque vêm de um lugar verdadeiro, sensível, profundo — como um abraço entre fé e arte.

Em 2002, lançou o primeiro álbum solo. A faixa “Getsêmani” se tornou seu hino — até hoje, 23 anos depois, é a música mais ouvida em seu catálogo. Mas é a canção “Princípio e Fim”, ainda inédita na versão definitiva, que ele escolhe como retrato de sua essência. “Essa música sintetiza tudo o que eu sou. O jeito que vejo o mundo, a fé, a arte, a minha história.”

Leonardo vê a música como algo muito além de entretenimento. Para ele, é um ato coletivo, uma fusão de razão e emoção. “Cantar exige concentração de um piloto de Fórmula 1 e sensibilidade de um poeta. É quando a mente encontra o coração. É quando o espiritual se manifesta no físico”. Ele se emociona ao lembrar de um dia específico: 11 de junho de 1995, em Vitória, Espírito Santo.

Enquanto cantava, senti Deus fisicamente no meu corpo. Foi ali que tudo mudou”.

Hoje, morando novamente na Alemanha, Leonardo carrega uma bagagem rara: domínio técnico, profundidade teológica, consciência artística e uma fé que passou por provas e permanece firme. Questionado sobre o afastamento de muitos jovens das igrejas, ele responde com empatia e alerta: “Entendo os que foram machucados pela religião. Mas espiritualidade sem comunidade vira deserto. Santidade é coletiva.”

Ao olhar para trás, Leonardo tem orgulho não apenas do que construiu, mas de como construiu. “Nunca cedi à tentação de comprometer meus ideais. Se errei, foi por convicção, não por conveniência”. E ao se ouvir hoje, com a voz lapidada pelo tempo e pela verdade, ele imagina que o garoto de 16 anos, tímido e perdido, diria apenas: “Valeu a pena.”

Confira o bate papo completo abaixo, e acompanhe Leonardo Gonçalves em suas redes sociais – Instagram e Youtube.

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